DeepSeek: A nova inteligência artificial chinesa está revolucionando o mercado, mas a que custo?

Legislação chinesa não impede que o governo tenha acesso irrestrito a dados armazenados por empresas; veja as diferenças entre as principais IAs e os riscos de privacidade de dados

Fev 2, 2025 - 11:27
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DeepSeek: A nova inteligência artificial chinesa está revolucionando o mercado, mas a que custo?

Recentemente, a empresa chinesa DeepSeek lançou seu assistente de inteligência artificial, o DeepSeek-V3, que rapidamente se tornou o aplicativo gratuito mais baixado na App Store dos Estados Unidos, superando o ChatGPT. Esse lançamento abalou o mercado de tecnologia, causando uma queda significativa nas ações de grandes empresas do setor. 

O DeepSeek-V3 destaca-se por sua eficiência, alcançando desempenho comparável a modelos líderes com um custo de desenvolvimento significativamente menor. A empresa afirma que seu modelo foi treinado utilizando apenas cerca de 2.000 unidades de processamento gráfico (GPUs), enquanto outras empresas utilizam até 16.000 GPUs ou mais. 

Além do DeepSeek, outras inteligências artificiais de destaque incluem o ChatGPT, dos Estados Unidos, e o LLaMA, desenvolvido pela Meta, também americana. O ChatGPT é conhecido por sua capacidade de manter conversas naturais e fornecer respostas detalhadas, sendo amplamente utilizado para atendimento ao cliente, educação e assistência pessoal. Já o LLaMA foca em eficiência e é voltado para a pesquisa acadêmica, oferecendo recursos para análise de dados e suporte em projetos de pesquisa.

Cada uma dessas IAs possui funcionalidades e aplicações distintas, refletindo as prioridades e inovações de seus países de origem. Enquanto o ChatGPT e o LLaMA têm sido amplamente adotados em diversas áreas, o recente lançamento do DeepSeek-V3 demonstra o rápido avanço da China no campo da inteligência artificial, trazendo novas perspectivas e desafios para o setor. 

Para esse artigo, a equipe técnica da coluna comparou e avaliou as tecnologias disponíveis das principais ferramentas e como essas impactam diretamente o usuário final. Observe esse comparativo nas duas tabelas abaixo:

Inteligências artificiais vs leis de proteção de dados

Um dos principais desafios do avanço da IA é a proteção de dados pessoais. Diferentes países adotam leis para regulamentar como essas informações são coletadas e utilizadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há uma legislação federal unificada, mas leis estaduais como a CCPA (California Consumer Privacy Act) garantem algum nível de proteção. Já a União Europeia conta com o GDPR, um dos regulamentos mais rigorosos do mundo, que exige consentimento explícito dos usuários e impõe sanções severas para o mau uso de dados.

Na China, no entanto, a situação é diferente. Apesar de existir a PIPL (Personal Information Protection Law), essa legislação não impede que o governo chinês tenha acesso irrestrito a dados armazenados por empresas, inclusive de IA. Isso significa que informações processadas por uma IA chinesa podem, teoricamente, ser acessadas pelo Estado, levantando preocupações sobre segurança e vigilância.

No Brasil, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) estabelece regras claras para a coleta e tratamento de dados pessoais, visando garantir a transparência e o controle por parte dos cidadãos. No entanto, desafios persistem na fiscalização e na efetiva aplicação dessas normas, especialmente diante do crescimento do uso de IA estrangeira no mercado nacional.

Soberania digital e independência tecnológica

Com o avanço das tecnologias de IA e a crescente dependência de soluções estrangeiras, a soberania digital se tornou um tema central. Os países precisam garantir que seus dados e informações estratégicas estejam protegidos e sob controle nacional. Atualmente, grande parte dos serviços de IA são fornecidos por empresas dos Estados Unidos ou agora da China, tornando-se um desafio para governos que desejam reduzir essa dependência.

A dependência de tecnologia estrangeira pode ter consequências graves. Por exemplo, se uma IA usada em um país é desenvolvida por uma empresa sujeita às leis de outro governo, há riscos de manipulação de dados, espionagem e restrições arbitrárias no acesso a serviços. Para evitar isso, é essencial que os países invistam no desenvolvimento de suas próprias tecnologias, garantindo maior autonomia e segurança digital.

“Desclaudilização”: o futuro da gestão de dados

Não basta simplesmente reduzir a dependência da China e migrar para soluções de outros países, como o ChatGPT. A verdadeira solução passa por investir em pesquisa, desenvolver IAs próprias — ou optando por soluções que permitam portabilidade do processamento de dados em servidores locais —, e assim garantindo que os dados fiquem dentro da jurisdição e infraestrutura de TI de cada país. Esse conceito é chamado de “desclaudilização”, ou seja, a busca pela autossuficiência na gestão dos dados, sem depender exclusivamente de terceiros.

Para que isso seja possível, é fundamental que governos, universidades e empresas trabalhem juntos para criar modelos de IA nacionais, alinhados às necessidades locais e à legislação vigente. Além disso, devem ser feitas parcerias estratégicas para a construção de infraestruturas seguras, que possibilitem o armazenamento e processamento de dados de forma independente.

Considerações finais

A IA está transformando o mundo, mas também traz desafios significativos em termos de privacidade e segurança digital. Modelos como o DeepSeek demonstram avanços impressionantes, mas também levantam questionamentos sobre a proteção de dados, especialmente quando sujeitos às leis chinesas.

Para garantir a soberania digital, os países devem investir no desenvolvimento de suas próprias soluções, reduzindo a dependência de grandes potências tecnológicas. A “desclaudilização” é um caminho necessário para que nações possam controlar e proteger seus dados, assegurando que a tecnologia sirva aos interesses de suas populações e não de corporações ou governos estrangeiros.

10 recomendações para uso das IAs com cautela:

  1. Verifique a origem da IA – Prefira modelos alinhados com legislações de privacidade confiáveis.
  2. Evite compartilhar dados sensíveis – Nunca forneça informações pessoais ou sigilosas.
  3. Leia as políticas de privacidade – Saiba como seus dados serão armazenados e utilizados.
  4. Use VPNs e proteções extras – Reduza a coleta de metadados sobre suas interações.
  5. Cuidado com respostas automatizadas – Sempre valide informações antes de confiar nelas.
  6. Evite dependência excessiva – A IA deve ser um auxílio, não uma substituição total do pensamento crítico.
  7. Monitore atualizações de segurança – Esteja atento a mudanças nos termos de uso das plataformas.
  8. Utilize apenas em ambientes seguros – Evite acessá-las em redes públicas ou inseguras.
  9. Cuidado com viés algorítmico – As respostas podem refletir padrões tendenciosos do treinamento.
  10. Considere alternativas locais – Avalie soluções que garantam mais controle sobre seus dados.

Uma outra recomendação importante é se atualizar com essas novas tecnologias por meio de grupos de discussão de especialistas. O Comitê de Segurança da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade (APDADOS.org), reúne mensalmente os maiores profissionais que analisam previamente as questões que envolvem Privacidade de Dados e Inteligência Artificial. Faça parte em https://apdados.org

Somente com estratégias bem definidas e investimentos consistentes será possível construir um futuro em que a IA beneficie a sociedade sem comprometer sua segurança e privacidade.

Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.

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