80 anos de cicatrizes profundas

Em 27 de janeiro de 1945, soldados da União Soviética libertavam o campo de concentração de Auschwitz, colocando fim no sofrimento de milhares e revelando as atrocidades nazistas para bilhões

Jan 27, 2025 - 22:14
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80 anos de cicatrizes profundas

A história da humanidade é marcada por inúmeros episódios cruéis que culminaram em genocídios e na morte de milhões em um curto espaço de tempo, todavia, os nazistas conseguiram elevar a crueldade a níveis inimagináveis. A diferença entre os campos de concentração de outros períodos históricos e os dos nazistas, foi a escala industrial dada à monstruosidade, onde o extermínio de judeus e outras minorias se deu de forma extremamente rápida, eliminando os vestígios do genocídio. Neste contexto tenebroso, o campo de concentração de Auschwitz se tornou a epítome do sofrimento de centenas de milhares de pessoas, uma área de 40 km2 onde foi apresentada ao mundo a pior face de nossa espécie.

Ao longo de quase cinco anos de operação, os campos de Auschwitz e Birkenau, receberam mais de 1.3 milhão de pessoas deportadas de seus países de origem, em sua ampla maioria, judeus europeus da Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Romênia, entre outras nações. Após terem perdido seus pertences, suas cidadanias, muitos de seus familiares e a vida como a conheciam, muitos judeus tinham na chegada em Auschwitz a perda de toda a pouca dignidade que lhes restava, nesta perseguição que dia a dia, buscava lhes tolher a humanidade. Neste processo de desumanização infinita, mais de 1.1 milhão de vidas foram ceifadas, colocando Auschwitz no mapa do Holocausto como a cidade mais mortal para o povo judeu. 

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A separação das famílias, o caminho até às câmaras de gás, os dias intermináveis de trabalhos forçados, as noites frias, os estômagos constantemente vazios e os traumas emocionais profundos não foram suficientes para frear a resiliência dos judeus. No dia 27 de janeiro de 1945, durante o último inverno da Segunda Guerra Mundial, o exército vermelho da União Soviética motivado pelas heroicas vitórias no leste europeu, chegaram em Auschwitz.

A libertação do maior campo de concentração nazista revelou ao mundo as maiores atrocidades jamais imaginadas por nós. Os soviéticos encontraram cerca de 7 mil pessoas, extremamente desnutridas, muitas severamente doentes e feridas, com olhares perdidos entre o alívio de terem resistido até o fim e a tristeza de terem visto outros milhares padecerem.

Os nazistas, ao perceberem que a guerra estava perdida, tentaram destruir grande parte das evidências do genocídio cometido. Explodiram algumas câmaras de gás, queimaram documentos, libertaram alguns prisioneiros em marchas da morte, mas a escala industrial da máquina de extermínio nazista era tão grande, que mesmo após tudo isso, os soviéticos encontraram e documentaram uma série de evidências que confirmavam a barbárie dos seguidores de Hitler. A documentação coletada pela URSS serviu como base ao Tribunal de Nuremberg e a outros julgamentos de líderes e funcionários nazistas que participaram da perpetração do Holocausto. 

Hoje em uma cerimônia na Polônia com a presença de 56 sobreviventes de Auschwitz, chefes de governo e de estado estiveram presentes, honrando a memória das vítimas e escutando os testemunhos dos que resistiram aos mais sombrios dias. Os 80 anos da libertação do campo, talvez seja a última data cheia com a oportunidade de contar com dezenas de sobreviventes ainda vivos, para trazerem pessoalmente seus relatos.

Muitos deles de idade bastante avançada e saúde debilitada, se preocupam hoje mais com o legado que deixarão para os próximos aniversários da libertação, do que com a presença física nos eventos. É válido ressaltar que as tensões políticas e militares na Europa, fizeram com que a herdeira histórica dos atos de bravura dos soviéticos, a Rússia, não fosse nem mesmo convidada a participar do encontro. 

Além de uma data marcante no aspecto histórico, o dia da memória dos sobreviventes do Holocausto é uma tarefa de constante confronto com o momento de maior fracasso de nossa espécie. As imagens e relatos que nos dão nós na garganta, um dia foram as dores reais de milhões de inocentes. Auschwitz será para sempre um palco macabro do que há de mais pútrido na humanidade, mas também o símbolo da resiliência humana.

O sobrevivente do Holocausto, o judeu austríaco Viktor E. Frankl, coloca de maneira muito sábia essa dicotomia que se revela em Auschwitz, a podridão do genocida versus a perseverança do oprimido: “Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz; mas ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça erguida, tendo nos lábios o Pai Nosso ou o Shem Yisrael”. Que 27 de janeiro seja todos os dias! Never again! Nunca mais!

 

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